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Receita Federal montou uma operação de guerra contra grandes empresas que,
amparadas pela legislação tributária, encontram formas de reduzir o imposto.
Juntas, essas companhias descontaram cerca de R$ 110 bilhões da base de cálculo
de seu imposto, fazendo acender um sinal de alerta. O fisco então passou a
enquadrar essas operações como "planejamento tributário abusivo". "Elas romperam
o limiar do possível", diz Iágaro Jung Martins, coordenador da fiscalização da
Receita. A controvérsia levou centenas de corporações ao Carf (Conselho
Administrativo de Recursos Fiscais), no qual está sendo travada uma discussão
que pode significar um rombo para o leão ou o fim de muitas empresas. Algumas
dessas companhias podem ter de arcar com grandes multas (a média é de R$ 500
milhões por empresa), mas há casos, como o do Santander, em que a autuação
chegou a R$ 6 bilhões.
TROPA DE CHOQUE A pressão contra as empresas começou em
2010, quando a Receita criou uma equipe especializada em identificar possíveis
fugas fiscais. Hoje, esse time conta com uma centena de auditores, em São Paulo,
no Rio de Janeiro e em Belo Horizonte. Resultado: R$ 50 bilhões em multas contra
102 grandes empresas entre 2010 e 2012. Até 2010, haviam sido aplicadas 37. No
primeiro trimestre deste ano, já são 34 os processos em andamento, e a equipe já
colocou na mira outras 250 operações. A maior parte das transações monitoradas
pelos auditores se refere a fusões e aquisições ou reestruturações dentro do
mesmo grupo econômico. Martins, da Receita, estima que, em 60% dos casos, tenha
havido "criação fictícia" de ágio, usado indevidamente para abater imposto (veja
quadro nesta página). Gerdau, Vivo, TIM, Oi, Natura e BM&FBovespa estão
entre as empresas autuadas que passaram por reestruturações desse tipo. Só a
autuação da Gerdau chega, em valores de hoje, a R$ 1 bilhão. Em mais da metade
dos casos, o fisco aplicou multa de 150% sobre o imposto supostamente devido por
considerar que houve má-fé no planejamento tributário. A multa padrão é de 75%.
A Receita se prepara para pedir ao Ministério Público Federal que represente
essas empresas criminalmente. Os escritórios de advocacia que participaram
dessas operações também serão processados, segundo Martins. "Não existe respaldo
econômico nessas operações. Elas foram criadas só para a obtenção do benefício
fiscal." Martins diz que as representações criminais ocorrerão após o julgamento
definitivo das autuações. Mas esse procedimento também é alvo de controvérsia.
"A prova de que não há fraude ou má-fé é que existem decisões no Carf favoráveis
aos contribuintes", diz o advogado Igor Mauler, da Comissão de Direito
Tributário da OAB Nacional. Todas as multas aplicadas foram contestadas no Carf,
no qual as empresas tentam reverter as autuações. Algumas, como o Santander,
conseguiram reverter a multa. Já o caso da Gerdau está na última instância
administrativa. Consultadas, as empresas não quiseram se manifestar devido ao
sigilo fiscal.
JULIO WIZIACK MARIANA CARNEIRO DE SÃO PAULO
Fonte: Folha de São Paulo