Receita deve definir normas para repatriação de recursos até 15 de março
A Receita Federal ainda vai definir normas para
regularizar recursos enviados ao exterior, sem declaração. A previsão é que a
regulamentação da lei - que cria o Regime Especial de Regularização Cambial e
Tributária, publicada ontem (14) no Diário Oficial da União -, seja feita até
15 de março deste ano. Quando a Receita regulamentar a lei, os contribuintes
terão prazo de 210 dias para aderir ao Regime Especial.
O advogado Nereu Domingues, especialista em assessoramento de empresas
familiares e grandes fortunas, diz que, com a troca de informações entre
países, manter dinheiro não declarado no exterior é arriscado. Ele ressalta que
a multa da Receita Federal pode chegar a 225%, além de haver imputação
criminal. “Vejo como uma oportunidade muito boa tanto para o governo
brasileiro, como para o contribuinte que pode legalizar a um custo muito
menor”, disse.
Para tornar legais os recursos, que não precisam ser repatriados, serão
cobrados 30% do valor do patrimônio, referentes a multa e Imposto de Renda. O
advogado explica que, na prática, esse percentual cai para cerca de 20%, porque
a base de cálculo prevista pela lei é o valor do patrimônio na data de 31 de
dezembro de 2014, quando o dólar estava em R$ 2,60. Atualmente, o dólar está em
cerca de R$ 4. No caso de um patrimônio de US$ 100 mil, por exemplo, o valor em
reais atualmente é de R$ 400 mil. Mas, como a base de cálculo é o ano de 2014,
serão cobrados 30% sobre o valor da época (R$ 260 mil). “Ainda assim, a
alíquota é muito mais alta do que em outras iniciativas. Por exemplo, na Itália
a alíquota é 4,5%”, destacou.
Investimentos
O advogado diz que muitos dos seus clientes planejam trazer o dinheiro do
exterior para o Brasil para investir. “Os ativos brasileiros estão muito
baratos em função da desvalorização do real. Muito dos meus clientes pensam em
internar os recursos, aproveitando este momento de ativos mais baratos no
país”, afirmou. Mas ele acrescenta que a crise política e econômica pode levar
investidores a evitar a repatriação. “O que está barato hoje pode trazer
prejuízos em função do quadro econômico e político”, acrescentou.
Domingues diz ainda que a lei não beneficia quem enviou recursos ilícitos ao
exterior. “São recursos que têm origem em lucros que foram tributados
regularmente aqui no Brasil e só fizeram a remessa de forma irregular devido à
preocupação com confisco, bloqueio de contas bancárias, desde a época do
governo Collor. Então, são recursos que têm origem lícita, tiveram o pagamento
de impostos aqui, no momento de sua origem, mas que foram remetidos com essa
preocupação”, disse.
A Receita Federal disse que não tem estimativa do valor total que pode ser
regularizado com a criação do regime especial. Durante as discussões no
Congresso, o Senado estimou que a nova lei pode resultar numa arrecadação entre
R$ 100 bilhões e R$ 150 bilhões nos próximos anos.
Kelly Oliveira – Repórter da Agência Brasil
Edição: Kleber Sampaio
Fonte: Agência Brasil