Por Bárbara Mengardo | De Brasília
A
instância máxima do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf) manteve
autuação aplicada contra a Ewen Administração e Participações - uma das
ex-controladoras da Elevadores Sûr - por uso indevido de ágio para reduzir o
Imposto de Renda (IR) e CSSL a pagar. O ágio foi gerado por meio de operações
de planejamento tributário conhecidas como "casa e separa" que
resultaram na compra da Elevadores Sûr pela ThyssenKrupp, na década de 90. A
Câmara Superior de Recursos Fiscais (CSRF) decidiu que houve simulação na
criação do ágio e manteve multa de 150% do valor devido. O contribuinte ainda
pode contestar a decisão no Judiciário.
Na
operação casa e separa, as partes envolvidas em uma aquisição criam outras
empresas para a realização do negócio. As autuações relacionadas ao tema têm
sido mantidas pelo Carf quando entende-se que essas empresas foram
estabelecidas apenas para reduzir a tributação por meio do aproveitamento de
ágio.
A
Câmara Superior manteve decisão da 3ª Câmara do antigo Conselho de Contribuintes
(atual Carf). Antes da efetiva venda da Elevadores Sûr à ThyssenKrupp foram
criadas empresas com a finalidade de gerar o ágio.
A
Ewen alegou que o ágio foi gerado por meio de permuta de ações e alterações
societárias, mas o argumento foi rejeitado pelo conselheiro relator Paulo
Jacinto do Nascimento. Em 2007, ao relatar o caso, Nascimento entendeu que
"salta aos olhos a desnecessidade dos negócios jurídicos celebrados que,
apesar de documentados e registrados formalmente, não retratam uma realidade
negocial".
Na
Câmara Superior, os conselheiros mantiveram ainda a chamada multa qualificada,
de 150% do valor devido, aplicada pela Receita Federal contra a Ewen
Administração e Participações por entender ser o caso de fraude.
Para
o procurador-chefe da Fazenda Nacional no Carf, Paulo Riscado, apesar de o tema
não ser novo na Câmara Superior, o entendimento deixa claro que, aos olhos do
Carf, esse tipo de operação é considerada uma simulação, passível da multa de
150%. "A jurisprudência é firme de que isso [casa e separa] é planejamento
abusivo, mas tinha ficado a dúvida se deveria ter multa qualificada", diz.
Esse
processo não é o único que trata da compra da Elevadores Sûr pela ThyssenKrupp.
Também em 2007, a 5ª Câmara do antigo Conselho de Contribuintes julgou
autuações fiscais lavradas contra a própria ThyssenKrupp e deram ganho de causa
à empresa.
O
processo da Thyssen também trata de operações casa e separa, mas, nesse caso, o
conselheiro relator Irineu Bianchi entendeu que o ágio teria existido mesmo que
outras empresas não tivessem sido criadas. Para o conselheiro, o Fisco não
trouxe provas de que a operação era irregular. Da decisão não houve recurso à
Câmara Superior.
Fonte: Valor Econômico